Nos últimos tempos (e bota tempo nisso), fala-se muito sobre os prazeres e desprazeres do trabalho remoto. Entretanto, é preciso ressaltar que, o que estamos vivendo neste momento de pandemia, se distingue – e muito – do que seria trabalhar remotamente em uma situação “normal”. Quando paramos para pensar no caso de pais e mães, principalmente, o cenário é ainda mais distante.
Afinal de contas, todos sabemos que trabalhar remotamente é um ótimo formato para quem deseja ter mais tempo. Seja evitando pegar trânsito, cozinhando algo caseiro para o almoço ou passando mais momentos com os filhos.
Mas, tem muita gente que ainda acredita que as vantagens de conseguir realizar seu trabalho de casa, mesmo na pandemia, só reservam vantagens para os solteirões. O que é um grande engano. Afinal, as mães (e pais) não estão aproveitando esse modelo de trabalho? É o que vamos descobrir ao longo deste texto!
2020 e o cenário do trabalho remoto
Durante o ano de 2020, cerca de 7,3 milhões de pessoas estavam trabalhando remotamente. Número que teve uma queda a partir do mês de novembro de, aproximadamente, 260 mil pessoas – quando comparado a outubro, segundo dados do estudo sobre o trabalho remoto do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Diminuição essa causada, provavelmente, pela retomada presencial de algumas empresas que estavam em home office desde o início da pandemia.
Mas, trabalhar remotamente é mais do que trabalhar em casa. Por isso, em 2020, ano do início da pandemia mundial do coronavírus, a Justiça do Trabalho proferiu algumas decisões baseadas no direito das mamães de seguirem em home office, mesmo que as empresas onde elas trabalham decidam retomar as atividades. Uma delas garante que as mães possam permanecer trabalhando em casa até que as aulas presenciais dos filhos recomecem.
Esse tipo de decisão da JT endossa a importância do apoio trabalhista para as mães – e pais também, claro – para que continuem exercendo seu trabalho da forma mais segura, sem nenhuma represália.
Maternidade no Brasil: os desafios além do trabalho remoto
Segundo dados do IBGE, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), de 2019, 44% dos trabalhadores são responsáveis por cuidar de crianças de até 14 anos. Além disso, 29% das famílias não contam com a ajuda de um familiar adulto, que não esteja trabalhando, para auxiliar nos cuidados dos pequenos.
E sendo bem sincera, a gente sabe que essa balança dos afazeres de casa e filhos não é muito justa, né? A jornada de trabalho da mulher não se restringe somente às 8h diárias dedicadas à empresa. Ela se estende para limpar a casa, cozinhar, cuidar dos filhos, estudar, se exercitar e se autocuidar. Ainda segundo o IBGE, esse combo de trabalho mais cuidados de casa conferem à mulher brasileira 10h24m horas extras semanais a mais que os homens – quase o dobro.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho
Essa diferença gritante não é exclusiva deste cenário. No mercado de trabalho, como é de senso comum, os benefícios de mães e pais também são discrepantes. Uma prova disso é o tempo de licença maternidade/paternidade que cada um recebe. Para as mães, o tempo pode variar entre 120 a 180 dias; já para os pais, o tempo total da licença chega a apenas 20 dias.
Não sei se você está se perguntando, neste momento, porque essa tamanha diferença. Mas, ela só reafirma o “papel da mulher” como progenitora e cuidadora que vemos desde que os portugueses acharam que descobriram o Brasil.
Afinal, por que a responsabilidade de cuidar de um filho e ficar tanto tempo afastada do trabalho é somente da mãe? Por que o tempo de licença não é o mesmo para ambos os pais, para que as tarefas que envolvem a maternidade sejam compartilhadas?
Essa desigualdade envolvendo as responsabilidades parentais é vista em milhares de lares brasileiros. E, com o confinamento forçado pela pandemia, só ficou mais nítido como a jornada dupla das mulheres é incansável.
Segundo levantamento feito pelo LinkedIn, em parceria com a The Female Lead, 82% das mulheres brasileiras acreditam que os homens possuem mais vantagens quando o assunto é carreira profissional. Entretanto, também são essas guerreiras que carregam boa parte do impacto econômico da pandemia da Covid-19, segundo estudo realizado pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI.
Home office que não é home office
O que muitas pessoas talvez não saibam, é que esse modelo de trabalho que grande parte da população mundial está enfrentando agora, pouco tem a ver com o trabalho remoto em sua essência.
Isso porque, estamos vivendo com um peso muito maior. Não há o pós-trabalho para aproveitar uma visita aos amigos ou familiares. Não há aquele happy hour esperto no final do expediente para celebrar a sexta-feira. E, muito menos a chance de se desligar totalmente do seu “ambiente de trabalho” por alguns momentos. Além disso, as mulheres que lidam com a maternidade neste cenário também não contam com as escolas abertas para lidar com parte da educação dos filhos – e, muitas vezes, precisam dividir sua mesa de trabalho com os trabalhos escolares do pequeno.
Essa rotina de casa alterada pela presença dos filhos e parceiros pode refletir em pequenos probleminhas diários de convivência que não aconteceriam em uma situação fora desse contexto pandêmico. Mas, o peso maior ainda acaba caindo para as mães, que muitas vezes acabam se vendo, até mesmo, no papel de professora dos pequenos.
Ou seja, ser mulher e mãe na pandemia é sinônimo de não ter descanso.
Mas, será que isso realmente é verdade?
De uma mãe para outras mães: sem censura
Segundo a Thais Kusuki, de 38 anos, que trabalha como desenvolvedora, dá para aproveitar o trabalho remoto na pandemia sim. A mãe do Diogo, de 4 anos, conta que, com a obrigatoriedade do home office na pandemia, precisou adequar sua rotina (e a do pequeno) para conseguir aproveitar o melhor dos dois mundos. “O desafio é grande, sabe. Mas acho que no início foi pior. Hoje em dia, consegui estabelecer uma rotina com o Diogo que me permite trabalhar e estar com ele durante este período. Para ocupar o dia dele, e também gastar a energia que crianças têm de sobra, procuro envolvê-lo em atividades que tirem ele do tédio, como criar um circuito dentro de casa com bambolês e outros móveis que já tínhamos.”
Thais também conta que ter o apoio da empresa e, principalmente, dos colegas de trabalho, fez com que as coisas ficassem mais leves para ela. “É normal estar em uma reunião por vídeo e o Diogo aparecer querendo mostrar as coisas para o time, como a coleção dele de minions e de dinossauros. E o pessoal super entende essa ‘participação especial’ nas vídeochamadas”. A adaptação, nesse caso, teve que ser compartilhada entre dois: mãe e filho. Isso porque, antes da pandemia, o Diogo ia para a escola e tinha outras atividades ao longo do dia. Mas, agora, ainda cumprindo o isolamento imposto pela pandemia, tudo se limita ao espaço do lar.
Assim como outras mães, a Thais teve que se reinventar neste período para dar conta da dupla jornada em casa. “Acho que, com a pandemia, a realidade da mulher ficou mais escancarada. Antes, o pessoal do trabalho só conhecia a Thais desenvolvedora. Agora, eles conhecem a Thais que também é mãe, mulher, dona de casa e, muitas vezes, professora. Tudo isso ao mesmo tempo”.
Conselhos que valem mais que barras de ouro
E como dar conta disso tudo e ainda aproveitar o momento com os pequenos?
Thais deixa um conselho para as outras mães: não se cobrem o tempo todo. “No início eu me cobrava muito. Mas, com o tempo, percebi que não consigo ser 100% boa em tudo ao mesmo tempo. Não vou conseguir ser aquela profissional 100% focada e nem uma mãe exemplar 100% do tempo com tudo acontecendo ao mesmo tempo. E está tudo bem, você não precisa ser. Você não precisa se cobrar tanto com o que estamos enfrentando no momento”.
Além disso, deixou algumas dicas que ela está começando a colocar em prática: “não se esqueça da saúde mental. Continue ou inicie uma terapia, mesmo online. Isso ajuda muito. Outra coisa importante é tentar mudar um pouco o ambiente. O Diogo está desde o início da pandemia em casa e já explorou todos os cantos possíveis daqui. Por isso, ter a chance de ir para um outro lugar, como alugar uma chácara ou uma casa maior que tenha uma boa internet para continuar trabalhando, vai ajudar a quebrar a rotina com segurança.”
Apesar de todas as estatísticas, existem exceções. Este momento difícil estimulou ainda mais o debate sobre afazeres domésticos e a divisão do trabalho de casa. Muitas famílias aproveitaram esse tempo, onde estão mais próximas, para encontrar um equilíbrio entre as necessidades que a pandemia está impondo. E, sinceramente, todo mundo só tem a ganhar com isso.
Divisão das tarefas é o melhor caminho
A Pâmela Borgmann, mãe do Pedro, de 3 anos, e Gerente Comercial, também compartilhou com a gente um pouquinho da sua rotina. Assim, como para a Thaís (e muitas outras mães), o trabalho remoto no início da pandemia também foi desafiador. “A falta de prática em ter que trabalhar e dar atenção ao meu filho me deixou muito pressionada. Isso porque eu não conseguia fazer nenhum dos dois com a dedicação que era necessária”, comenta.
Para ela, conseguir dividir as tarefas de casa com o marido, foi essencial para criar uma rotina mais saudável para todos. “Aqui em casa meu marido e eu dividimos bem as atividades da casa e isso foi fundamental para não sobrecarregar nenhum dos dois ainda mais. Conforme os dias foram passando eu fui me adaptando e aprendi que para estar bem, não necessariamente tem que estar tudo bem. Além disso, tive bastante apoio da equipe (alguns com filhos também), então não tinha problema em ter uma gritaria ou outra durante a reunião”.
E o trabalho remoto pós-pandemia?
Fato é que, em algum momento, a pandemia vai passar. Mas, para muitas pessoas, o trabalho remoto não. Isso porque esse modelo tem ganhado cada vez mais adeptos no Brasil. Empresas como a XP Investimentos anunciaram, em 2020, que seus times seguirão 100% remotos mesmo quando tudo se normalizar. No caso do Quinto Andar, a gigante do setor de aluguéis, a opção do trabalho remoto vai ser oferecida para todos os funcionários que quiserem.
Entretanto, outras empresas já trabalham neste modelo há tempos. Como é o caso da Appen, uma prestadora de serviços de tecnologia sediada no Canadá, que não só oferece o trabalho remoto para qualquer pessoa no mundo, como também a flexibilização das horas trabalhadas.
Esse é outro ponto importante. Com o trabalho remoto raiz, você pode escolher trabalhar em empresas não somente de todo o Brasil, mas do mundo. São muitas as empresas que buscam mão de obra brasileira, principalmente as focadas em tecnologia. Com a valorização do dólar, por exemplo, essa pode ser uma boa opção para quem busca novos desafios profissionais.
Portanto, se você for uma mãe que descobriu todas as maravilhas nessa prévia do home office (ou não), e está pensando em seguir com esse modelo de trabalho pós pandemia, mas não sabe por onde começar, eu tenho uma ótima dica: ficar de olho nas vagas da Remotar. Nada melhor do que um site focado somente em trabalho remoto para você buscar seu novo desafio profissional, certo? Então, não perca tempo. Tem vaga nova todo dia e uma delas vai ser a sua cara.